Reflexões de um Zentista

  Não sei se pela minha declarada admiração pela cultura Oriental, ou pelo meu visual que talvez faça lembrar um monge (só no visual, vamos deixar claro!) o fato é que uma paciente, com um humor fantástico, começou a me chamar de Zentista.
Achei e ainda acho graça na colocação dela, mas o fato me leva a algumas reflexões sobre minha profissão de como os pacientes nos vêem através de gestos, atitudes, atuações, posturas, vestuário, enfim...
Afinal, o que é ser Zen?
Em um artigo interessante achado na Internet em um site de buscas, um autor (Alex Castro) questionava em 2011: “ Ser Zen ou Praticar Zen?”.
Para ele, falar sobre zen é a coisa menos zen do mundo e continua ...
“...O zen é uma prática. Não é algo em que se acredita, nem algo com que se concorda: é algo que se pratica. Desse modo, pode-se dizer que a premissa filosófica ou espiritual que une os praticantes de zen é simplesmente o fato de quererem praticar o zen...”. Em resumo ninguém“é” ou deveria ser zen e sim praticar o zen.
Não existe um manual ou dicas de como “ser” zen, mas um mestre zen poderia sugerir, para quem quiser praticar ou conhecer um pouco melhor:
Ser ativo, atento,  concentrado
Fazer uma coisa de cada vez
Concentrar-se totalmente no que se está fazendo
Respirar, respirar e ....respirar! E ter consciência desta respiração, consciência da postura do corpo, das coisas e pessoas que o rodeiam.
Ao falar e escrever, usar palavras de carinho, respeito, atenção...   
e por aí vai...
 Como ensina um pensamento zen: “Não há nada de errado em sentirmos raiva, tristeza, paixão, inveja... É humano. Só não devemos deixar que as emoções nos dominem e nos impeçam de fazer, aquilo que estamos fazendo.
Ganhei certa vez um livro (coisa de mais de 20 anos atrás) chamado “ A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen” de Eugen Herrigel.Vale a leitura, não como livro de auto-ajuda, mas como um livro não ficcional que conta o aprendizado do autor que viveu no Japão e que através da prática da arte do arco e flecha, mostra, pela visão ocidental, importantes questões sobre o zen-budismo. Em determinado trecho ele escreve "Arco e flecha são, por assim dizer, nada mais do que pretextos para vivenciar algo que também poderia ocorrer sem eles...” e ainda o homem é um ser pensante, mas suas grandes obras se realizam quando não pensa e não calcula. Pensar sem pensar!”.OK, se você  chegou até aqui deve estar se perguntando: e aí? O que tudo isto tem a ver com a proposta, a fala inicial? Com Odontologia ? Dentista? Paciente? Paciência? Gongos? Incensos? Meditação? Tudo e nada, dentro do mais precioso enigma zen. Creio que devemos mesmo praticar alguns ensinamentos úteis já listados e notar como isto pode fazer  toda a diferença! Como exerecer uma atividade qualquer com serenidade, dedicação, com amor, tentando dar o melhor que pudermos sempre, nos realiza, nos torna pessoas melhores. Como ensina Tarthang Tulku “Trabalhar de bom grado, com toda a nossa energia e entusiasmo, é o modo que temos de contribuir para a vida. Trabalhar desta forma significa trabalhar com habilidade.”
Com todas as dificuldades e atitudes viciosas e padronizadas do dia a dia, é bom sempre praticar estes ensinamentos. No trânsito, no consultório,no escritório, em casa, em qualquer lugar, e se esforçar , insistir e lutar para ser um profissional melhor, uma pessoa melhor, na busca do sonhado equilíbrio e  ciente de que às vezes pode ser frustrante quando temos a percepção de não ter atingido metas, que algo pode  não ter saído como se desejava que saísse, mas dentro desta linha de pensamento procurar não deixar o sentimento nos sequestrar e seguir em frente.
Zentista? Acho que não, embora o apelido seja carinhoso, mas gostaria realmente de continuar a me aprimorar e proporcionar o melhor para mim e para todos
O Mestre na arte da vida faz pouca distinção entre seu trabalho e seu lazer, entre sua educação e sua recreação. Ele deixa para os outros a decisão de saber se está trabalhando ou se divertindo. Acha que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo”. Provérbio Zen





 

Comentários

  1. Excelente Hélio! E "A Arte..." é um livro excepcional mesmo, li há muito anos e coincidentemente lembrei dele algumas vez nos últimos tempos... agora que vc citou vou definitivamente dar uma boa relida... abs!

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    1. prezado amigo Jorge, este ivro é realmente especial e vale a leitura. Que bom que houve esta sincronicidade.
      abs

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  2. Definitivamente você é um escritor! Oportuna leitura. Valeu! abç

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    1. Yara, agradeço o comentario, mas longe de mim ser um escritor. a gente brinca com as idéias e as palavras e tentamos passar o que sentimos. abs

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  3. Dr. Hélio, vc pratica o zen com seus pacientes. Transmite calma, sabedoria, confiança e seu tratamento é, sempre!, gentil, carinhoso e atencioso. Mesmo em momentos dificeis, e nunca é fácil ou prazeiroso sentar na cadeira do dentista, como paciente posso dizer, você se apresenta como amigo, sempre sorrindo, confiante em sua arte e ofício.
    Não sei quem é sua paciente, mas deve ser genial(rs...), pois captou a essência de seu ser.

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    1. Caramba! que palavras gentis! Super grato "anonimo", fico feliz que tenha captado também. Abraços

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