Psicossomática e Odontologia




O início
Sempre tive curiosidade pelos temas relacionados à Psique, as emoções, a alma. Talvez  influencia de minha querida irmã que cursava a Escola Normal, e que na época tinha na grade o curso de Psicologia. Eu menino, adorava fuçar em seus livros.
Optei em fazer Odontologia e percebo que talvez o destino tenha dado uma boa ajuda e assim me tornei Cirurgião-Dentista - profissional habilitado e responsável pela prevenção e tratamento das doenças do sistema estomatognático - boca e demais estruturas anexas.
Percebemos que este sistema não chega sozinho, de modo autônomo no consultório. Faz parte do “pacote” a boca vir junto com uma pessoa. E essa pessoa que nos procura, interage, sofre e precisa sempre e muito (entre outras coisas) de uma atenção especial como Ser integral que é.
Cabe assim ao profissional, no meu modo de ver as coisas, compreender e interpretar as emoções e suas possíveis implicações no desenvolvimento de uma doença oral manifesta, até por que atualmente este é um ótimo diferencial para a profissão.


Definições  
   
  • O termo psicossomática vem de Psico (psique, alma, mente ou função anímica) + Somática ( relativo ao soma ou corpo) e aparece pela primeira vez em  1818 através do  psiquiatra alemão J. C. Heinroth .   
  • Alguns nomes aparecem sempre ligados ao desenvolvimento do estudo da matéria tais como GRODDECK (1866~1934),FREUD (1856 ~1939), ALEXANDER (1891 – 1964) e MARTY   (1918 ~ 1993) entre outros e mais recentemente dentro da linha acima citada Torwald Dethflesen e Rudiger Dahlke ( A Doença como Caminho e A Doença como Símbolo)
  • Mais popularmente divulgado para o publico leigo, podemos citar uma das precursoras dos livros de auto-ajuda Louise Hay (Você pode curar sua vida).
 
Somáticos e odontológicos




Uma frase tem circulado muito por emails e redes sociais: “ Quando a boca cala, o corpo fala” e se tornou meio que um bordão para os que se interessam pelo tema da psicossomática, pelo menos a psicossomática de uma linha que interpreta a linguagem simbólica das manifestações que ocorrem no corpo.




O assunto é tão vasto e complexo quanto  fascinante.
Se pesquisarmos no Google o termo doenças psicossomáticas, teremos neste primeiro filtro de busca, nada mais nada menos do que 150.000 itens listados!




Ouço médicos, amigos, conhecidos, profissionais de diversas áreas citando “aquele caso” da mulher que sofreu uma decepção amorosa ou vive mal com o marido e que está com câncer de mama. Outro que desenvolveu uma ulcera de “tanto engolir sapos” e uma série de outras simbologias claras e diretas como possíveis causas para estes males, e assim vamos fazendo associações mais ou menos lógicas dos possíveis símbolos com o órgão e a doença.
Pouco se têm escrito em relação às afecções da cavidade bucal e possíveis associações  simbólicas e doenças psicossomáticas relacionadas.
A boca e suas estruturas guardam em sua “memória” as mais diversas emoções, sentimentos e simbologias. Basta lembrar que nosso primeiro contato de satisfação, intimidade, afeto e prazer ocorreram na cavidade oral através da amamentação.




Os dentes nascem e o sugar dá lugar ao morder, abocanhar e há uma clara conotação ao instinto de luta, de agressão e sobrevivência, acompanhadas pela sensação de independência e poder. Ruminamos emoções, rangemos os dentes contendo nossa agressividade instintiva.
Com o tempo vem a aceitação do individuo no meio social, afinal “os dentes são o cartão de visitas de uma pessoa” como se costuma dizer. Assim o sorriso tem a imagem clara de bem estar, confiança, alegria, segurança, acolhida e aproximação.
O sentido do paladar nunca deve ser negligenciado, afinal lembramos do “gosto da infância”, “gosto de festa” e dos “tempos  amargos” , simbolizando alegrias e tristezas no que se aprende com a boca.
Prazer e boca formam assim associações das mais diversas, não podendo ainda nos esquecermos do prazer do beijo, do carinho,do sexo em si. Impossível  falar em beijo sem falar de sexo e vice-versa. A boca fica sendo assim uma zona erógena por excelência.
Uma conclusão em aberto
Qualquer que seja a linha de pensamento ou escola em que se possa abordar o assunto, existe um consenso sobre a necessidade de conscientização, de se trazer à tona e passar a limpo os mecanismos de adoecimento no que concerne ao soma e a psique.
Biofilme (placa bacteriana) continua sendo fator importante das doenças da boca (dentes e gengivas) mas existe algo primordial ao terreno em que o adoecimento ocorre.
Os Cirurgiões-dentistas continuarão obviamente a restaurar e alinhar dentes, a confeccionar placas de mordida e implantar dentes artificiais, mas uma reflexão profunda tanto por parte dos pacientes como dos profissionais é necessária sempre, assim como uma interação multidisciplinar com outros profissionais da área da saúde para proporcionar o bem estar e prevenção sempre tão almejadas.
Abaixo um quadro resumo do órgão comprometido, manifestação e símbolo, baseado em  Dethflesen e Dahlke.




Órgão
Manifestação
Simbologia
Dentes

Representam o dinamismo agressivo e habilidade de enfrentar a vida (saímos “mordendo” as oportunidades, abocanhando o que nos interessa)
Gengiva

Alicerce da vitalidade e da agressividade, da confiança primordial e da auto-segurança
Cárie
Deixar os dentes serem devorados

Recalcamento da agressividade
Um evitar relacionado à incapacidade
Inibição da mordida


Doença Periodontal
= conflito em torno da confiança original inflama-se junto ao alvéolo.

As raízes e a agressividade ficam a descoberto – armas oscilantes

Ranger os dentes (à noite) - Bruxismo
Expressar agressividade impotente
Aquele que não consegue satisfazer o desejo de “morder algo durante o dia”, apara recursos potencialmente perigosos


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